Apenas 35% dos casos de estupro no Brasil são notificados
A história aterradora de um estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro tomou conta do país. Os autores publicaram vídeos e fotos nas redes sociais da menina à mercê de seus agressores. Quatro deles já foram identificados pelas autoridades que investigam o caso. O crime aconteceu no sábado (21), mas só foi notificado na quinta-feira (26). O caso dela poderia ter entrado para o pior lado das estatística dos casos de violência contra a mulher: o daqueles que não são registrados. Entre os motivos estão a vergonha das vítimas, o sentimento de culpa e o medo de ser julgada e maltratada por aqueles de quem deveria receber apoio e ajuda – em casa, na delegacia ou no hospital.
Segundo dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2014, 47.600 pessoas foram estupradas no Brasil. A cada 11 minutos alguém sofreu esse tipo de violência no país. Esse número pode ser ainda maior, pois a pesquisa só consegue levar em conta os casos que foram registrados em boletins de ocorrência – estimados em apenas 35% do montante real. Estamos falando de outros 65% que nem sequer entram nas estatísticas.
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A Pesquisa Nacional de Vitimização (2013) verificou que, no Brasil, somente 7,5% das vítimas de violência sexual registram o crime na delegacia. A mais recente pesquisa do gênero, Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde, produzida pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), fala em 10% de casos notificados e estima que, no mínimo, 527 mil pessoas sejam estupradas por ano no país.
Isso não acontece só no Brasil. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos produziu um estudo e verificou que, em 2010, apenas 35% das vítimas nos EUA reportaram o crime à polícia. Já o Instituto de Criminologia Australiano divulgou, num estudo sobre segurança feminina (The women’s safety survey), que 15% das vítimas de violência sexual australianas reportaram o incidente à polícia no período de 12 meses anterior à pesquisa. O crime de estupro é aquele que apresenta a maior subnotificação. Como consequência, é mais difícil de combater.
Mapa do estupro
No ranking estadual, Roraima lidera, com a maior taxa de estupros registrados –
55,5 casos a cada 100 mil habitantes. Em seguida vêm Mato Grosso do Sul, com
51,3, e Amapá, com 45 (a maior taxa de registros não quer dizer que sejam os
Estados com a maior taxa de estupros). No outro extremo, com o menor número de
registros, estão Espírito Santo (6,1), Minas Gerais (7,1) e Rio Grande do Norte
(8,7) (da mesma forma, a menor taxa de registros não significa que esses Estados
tenham menor taxa de estupros). Em
números absolutos, São Paulo, com a maior população, está em primeiro lugar.
Foram mais de 10 mil relatos de estupros no período de um ano – mais de 20% do
total de casos registrados em todo o Brasil. O Rio de Janeiro responde por 12%
dos casos registrados.
Confira a situação de cada Estado no infográfico.
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Ainda segundo a pesquisa, 90,2% das mulheres e 73,7% dos jovens de 16 a 24 anos afirmam ter medo de sofrer violência sexual. Alem disso, 67,1% da população brasileira residente nas grandes cidades brasileiras tem medo de ser agredida sexualmente.
>>As violências depois do estupro
Fonte: Revista Época